De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o
câncer de próstata é mais incidente que o câncer de mama. Entre 2012/2013 foram
diagnosticados 60.180 novos casos de câncer de próstata, enquanto 52.680 eram
de mama. Já uma pesquisa do DataFolha revelou que o preconceito com o exame de
toque retal ainda é forte no Brasil. Apenas 32% dos homens brasileiros
declararam já ter feito o exame.
Para falar mais sobre este assunto, a equipe de web
jornalismo do Canal Minas Saúde conversou com o Dr. Antonio Peixoto Lucena
Cunha. Ele atua como professor na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
e é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, regional Minas Gerais.
Acompanhe a entrevista:
1) O homem tem procurado mais urologista na questão da
prevenção ou não?
Temos um visto nos últimos anos uma maior conscientização da
população com um numero crescente de pessoas que procuram seu urologista após
os 40 anos para os exames de detecção precoce de câncer da próstata. Nas
empresas, há um destaque importante para a próstata nos exames periódicos, com
orientações aos funcionários para o exame anual.
2) O que é o câncer de próstata? Quais são as principais
causas?
O Câncer da Próstata é a segunda causa de óbito por câncer
em homens, sendo superado apenas pelo câncer do pulmão. Atualmente é o segundo
câncer mais comum no sexo masculino, com incidência menor apenas para o câncer
de pele. A sua incidência aumenta a partir da 5ª. década. História familiar de
pai ou irmão com câncer da próstata pode aumentar o risco de câncer em 03 a 10
vezes em relação à população geral, bem como pessoas de cor negra.
3) Como é possível detectar o câncer de próstata? Quais são
os principais sintomas? O paciente só consegue perceber a doença após o exame
ou não?
A suspeita clínica do câncer da próstata resulta quase
sempre de anormalidades encontradas no toque digital da próstata e ou
alterações no nível sérico do antígeno específico da próstata (PSA). O exame do
PSA, que se encontra em uso clínico para o diagnóstico e seguimento do câncer
da próstata desde 1986, tem sensibilidade que varia entre 35% a 75% e
especificidade de 63% a 91% para o diagnóstico do câncer da próstata.
Toque retal mais PSA hoje são considerados métodos
complementares entre si que permitem a detecção adequada de homens com câncer
da próstata. A Ultrasonografia trans-retal da próstata é utilizada na avaliação
do homem objetivando identificar a presença do câncer da próstata, entretanto a
sua acurácia para identificar esta doença é de 63%, e vários autores relataram
a baixa eficácia deste exame na identificação de áreas com comprometimento por
câncer da próstata e o seu valor isolado não é maior que o toque retal da próstata.
Até mesmo a Ressonância Magnética tem acurácia limitada na identificação desta
patologia, variando entre 71% a 83% sem e com a utilização do “coil”(probe)
endo-retal, além de alto custo, isto
leva na atualidade à inadequada na eficácia do método na localização tumoral.
O Câncer de Próstata nas suas fazes iniciais não apresenta
sintomas porque a sua origem na maioria das vezes é na periferia da próstata, e
quando cresce a ponto de obstruir a uretra, é muito comum apresentar também
invasão extra-prostática, o que caracteriza uma doença localmente avançada, com
grandes chances disseminação pélvica ou óssea. O Câncer da Próstata quando
diagnosticado precocemente (em estadio inicial – doença confinada à glândula
prostática), é CURÁVEL. Esta detecção precoce pode reduzir os altos custos
decorrentes do tratamento em estadios avançados/doença metastática.
4) Pela sua experiência, o diagnóstico tardio do câncer de
próstata pode ser um problema para o tratamento eficaz da doença?
As chances de cura do câncer de próstata avançado são muito
pequenas, conseguimos prolongar a sobre-vida do paciente, mas apresenta um
custo elevado, e infelizmente chega uma etapa na progressão da doença que não
dispomos ainda de tratamento eficaz, levando o paciente a falecer do câncer.
5) Ter dificuldade para urinar ou até mesmo ter infecção
urinária com frequência pode ser um sintoma a ser considerado?
Sintomas do trato urinário como dor na micção, levantar a
noite várias vezes, esforço na micção, jato fraco e interrompido, sensação de
esvaziamento incompleto, tenesmo pós miccional, urgência urinária ou
urge-incontinência urinária podem estar presentes em outras doenças da próstata
como prostatites e hiperplasia benigna da próstata, muito frequentes após a
quinta década de vida. Na presença qualquer sintomas do trato urinário
inferior, o paciente deve procurar seu urologista. Na maioria das vezes são
resolvidos facilmente, contudo podem ser uma manifestação de uma doença mais
séria.
6) A questão hereditária pode ser um fator a ser considerado
para o câncer de próstata? Como se prevenir?
História familiar de pai ou irmão com câncer da próstata
pode aumentar o risco de câncer em 03 a 10 vezes em relação à população geral,
bem como pessoas de cor negra. Não há como evitar o câncer de próstata, o que
deve ser feito é o exame anual com intuito de detectar precocemente e tratar de
uma forma mais eficaz e definitiva. A Associação Americana de Urologia
atualmente recomenda a realização do PSA e exame do toque retal anuais em homens
acima de 50 anos, ou acima de 40 anos, caso haja história familiar de câncer em
parentes de primeiro grau ou a raça do paciente seja negra. Esta é a conduta
adotada também por nós urologistas brasileiros (SBU; INCA/MS).
7) Mito ou verdade: os negros constituem um grupo de maior
risco para desenvolver o câncer de próstata?
Verdade. Pessoas de cor negra apresentam uma incidência
maior de câncer de próstata, assim como pessoas que apresentam historia
familiar.
8) Muitos homens ainda tem preconceito em realizar o exame
de toque. Na sua avaliação, qual é a origem desse preconceito e como
enfrentá-lo durante a consulta? Existe uma idade para se começar a fazer o
exame?
O medo de descobrir a doença, o preconceito com o exame de
toque endo-retal, o fato de achar que os sintomas que apresentam são normais da
idade, a desinformação são as principais causas do receio. O exame de toque é
fundamental na detecção precoce e hoje há uma crescente conscientização da
população na prevenção não só do câncer mais de outras doenças como as
cardiovasculares, pulmonares.
A Associação Americana de Urologia atualmente recomenda a
realização do PSA e exame do toque retal anuais em homens acima de 50 anos, ou
acima de 40 anos, caso haja história familiar de câncer em parentes de primeiro
grau ou a raça do paciente seja negra. Esta é a conduta adotada também por nós
urologistas brasileiros (SBU; INCA/MS).
9) O paciente com câncer de próstata pode ficar impotente ou
ter algum problema no seu aparelho reprodutivo?
A possibilidade de impotência sexual depende da idade do
paciente, da localização do tumor, da experiência do cirurgião e de doenças
concomitantes bem como da existência ou não de disfunção erétil no
pré-operatório. Atualmente os índices de complicações com a cirurgia são mínimos,
isto se deve ao fato da maior experiência dos cirurgiões, instrumental adequado
e adaptado para este tipo de cirurgia, possibilitando incisões pequenas, menor
tempo de internação (1 a 2 dias) e de permanência com a sonda vesical (7 a 15
dias).
10) Quando é indicado a cirurgia de retirada da próstata?
Todo paciente necessita de fazer a operação ou a quimio/radioterapia já ajudam
para eficácia do tratamento?
O adenocarcinoma de próstata em fase inicial em pacientes
com idade inferior a 75 anos e perspectiva de vida superior a 10 anos apresenta
como melhor indicação terapêutica a prostato-vesiculectomia radical com
linfadenectomia pélvica. Trata-se de um procedimento cirúrgico, realizado sob
anestesia peridural, com incisão infra-umbilical (pode ser via perineal), com
necessidade de permanência de sonda vesical de demora por 7 a 21 dias no
pós-operatório, índice de incontinência de 3 a 10 %.
Outra opção terapêutica é a radioterapia, que pode ser
conformacional (externa) ou braquiterapia que consiste do implante de sementes
radioativas na próstata dirigida pelo ultra-som transretal, sob anestesia por
bloqueio. Indicado nos casos de doença localmente avançada, pessoas que
apresentam risco cirúrgico elevado, ou se recusam a cirurgia.
A terceira opção terapêutica seria utilizado para casos de
tumor avançado ou pacientes sem condições cirúrgicas, consiste de hormônio
terapia, podendo ser realizado com medicação ou através de cirurgia. Em casos
de tumores que não respondem ao tratamento hormonal, uma opção seria a
quimioterapia, mas com resultados ainda não mito favoráveis.
Fonte: Canal Minas Saúde
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe sua sugestão, dúvida ou crítica, que servirá para a melhora do blog, e gostando, curta e/ou siga o blog...